terça-feira, 16 de novembro de 2010

Repitologia

REPITOLOGIA
Estudos para um bailarino de um passo só

Intérprete-propositor: Victor D’Olive

            As questões que me mobilizam ao exercício gestual se transformam como o próprio sentido do movimento o que me faz pensar na formação área dos pássaros, no ritmo ondulante das águas do mar, na estrutura sinuosa e temporária das nuvens, no balanço pendular das crianças que brincam, na progressão infinita de todas as coisas. O sentido do movimento, considerado aqui como transeunte, vai, mas no que vai vem e vindo me forma, informa e transforma em questão. Por isso, hoje transformado pelo próprio movimento, como ser movente, penso que a questão que se incorpora e encorpa em mim é a repetição. Como trabalhar em torno de uma ciência da repetição? Por que não considerar aquilo que se articula em mim e que aos outros se assemelha como puro ato mecânico como uma gestualidade, mecânica sim, mas – sobretudo – cientificamente avaliada?  A partir de que lugar a repetição pode se estruturar como ação genuína, positiva e não irromper em decepção nos espectadores que a percebem? Onde e em que lugar a imaginação criativa tangencia e se encontra com a ilusão da repetição – que de fato inexiste quando pensamos em temporalidades, espacialidades e estados de corporalidades únicos. Como fundar uma REPITOLOGIA?
            A pesquisa em processo, portanto, busca estabelecer a partir da lógica da repetição possibilidades de criação para o artista, esboçando então uma possibilidade de cientificizar aquilo que se mantém sempre o mesmo. Ao revés, porém, de determo-nos aos conteúdos do movimento repetível expandimos, aqui, o horizonte da cena através da apresentação de depoimentos coletados pelo intérprete entre os meses de intercâmbio no Projeto Colaboratório 2010 e fornecidos por críticos, coreógrafos, amadores e orientadores que fizeram parte do projeto.
            Percebemos, aí, que os depoimentos fornecidos todos apresentam um caráter crítico e analítico do movimento que se repete, donde surgem as questões: Por que este movimento se repete? Por qual razão este movimento reclama tanta a atenção das pessoas? Por que as pessoas se incomodam em ver um movimento se repetindo? E é justamente a partir destes depoimentos que construímos a lógica processual dramatúrgica de nosso trabalho.

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